Escrever sempre foi um ato solitário. Mesmo quando pensamos em leitores, editoras, agentes literários e prateleiras de livrarias, o primeiro movimento da literatura nasce no silêncio. É o escritor, um documento em branco e a esperança de transformar ideias em algo que sobreviva ao tempo. Mas, na era digital, essa solidão ganhou novos contornos: e, com ela, vieram desafios que os escritores de gerações passadas talvez nem imaginassem enfrentar.

 

Hoje, ser autor não significa apenas escrever bem. Significa ser editor de foto e vídeo, criativo, gerente de redes sociais, e, às vezes, até especialista em SEO. A literatura precisa existir dentro e fora das páginas: ela compete com feeds, séries que estreiam toda semana e áudios de 2x no WhatsApp. Publicar um livro é só metade do caminho; a outra metade é fazer com que ele seja visto.

 

É nesse ponto que muitos autores encontram sua maior batalha. Já ouvi colegas dizerem que, às vezes, escrever parece a parte fácil. O difícil é chamar atenção no meio do barulho. Um vídeo de 15 segundos no TikTok pode vender mais livros do que meses de divulgação tradicional. E, ao mesmo tempo, esse mesmo vídeo pode afundar sem engajamento, deixando o autor com a sensação de estar gritando no vazio.

 

Mas é injusto pintar as redes sociais apenas como vilãs. Elas também abriram portas que antes estavam trancadas. Hoje, leitores podem descobrir escritores de pequenas cidades brasileiras e autores podem alcançar públicos que antes seriam impensáveis. Um exemplo que posso citar é o bloco semanal “Litera Delas”, no canal do YouTube, onde tenho a honra de apresentar ao lado de outras autoras incríveis (Cass Razzini, Nathy Tomaz e Iza Almendane). Lá, conversamos sobre os mais variados temas literários e, assim, construímos pontes com os leitores que assistem, comentam e compartilham. As redes sociais também criam laços com pessoas que talvez não conheceríamos tão facilmente, como essas autoras maravilhosas com quem hoje compartilho essa jornada. É uma prova viva de que a literatura respira em novos formatos e plataformas.

 

Ainda assim, o ritmo pode ser exaustivo. Existe uma pressão invisível para estar sempre “on”: lançar conteúdo, participar de trends, responder comentários, manter a relevância. Às vezes, sentimos que, se pararmos por uma semana, o algoritmo nos esquece. E, nesse processo, corremos o risco de perder a essência: aquela faísca inicial que nos fez escrever a primeira história. A solução não é abandonar as redes nem ceder totalmente a elas, mas encontrar equilíbrio. Talvez seja sobre transformar os bastidores em narrativas, mostrar que o processo criativo também é parte da história. Ou sobre unir forças: autores que divulgam o trabalho uns dos outros, leitores que indicam livros de pequenos escritores, blogs e podcasts que dão espaço a novas vozes.

 

O futuro da literatura não está apenas nos grandes lançamentos ou nas listas de mais vendidos. Ele está no clube de leitura online que discute um autor independente, na leitora que garante um e-book em promoção e descobre sua nova história favorita, na live despretensiosa que conecta escritores e leitores em um sábado à noite. 

 

Ser autor na era digital é, acima de tudo, um ato de resistência e reinvenção. Resistência para não desistir diante da indiferença de um algoritmo. Reinvenção para transformar cada curtida em ponte, cada comentário em convite, cada história em um eco que atravessa telas e chega onde precisa chegar. E, se você está lendo isso agora, talvez já seja parte desse movimento: alguém que acredita que livros ainda importam, que histórias ainda têm o poder de mudar mundos… um clique, uma página e um coração de cada vez.

 

Texto escrito por: Mel Courel 

 

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