Na literatura, como em tantas outras áreas criativas, as tendências surgem e desaparecem em velocidade impressionante. Um gênero de repente domina as listas de mais vendidos, um estilo narrativo se espalha pelas redes, personagens de um mesmo arquétipo se multiplicam em lançamentos sucessivos. Para o escritor, a pergunta parece inevitável: é melhor escrever o que está em alta ou permanecer fiel ao que realmente faz sentido para si?

O dilema é real porque escrever também é, em alguma medida, dialogar com o mercado. Ignorar o que os leitores buscam pode significar caminhar por uma estrada mais longa e, às vezes, mais solitária. Por outro lado, seguir cegamente o hype pode transformar a escrita em um exercício mecânico, um produto em série sem alma. Quando a voz que guia a criação não é a do autor, mas a de uma tendência passageira, corre-se o risco de perder aquilo que torna cada narrativa singular: a autenticidade.

Muitos livros que nasceram de modas literárias rapidamente se apagaram. Eram obras que, embora bem acabadas, careciam de identidade. O leitor pode até ser atraído pelo tema da vez, mas raramente permanece onde não há verdade. A literatura que se sustenta é aquela que traz a marca inconfundível de quem a escreveu, que carrega algo impossível de ser repetido. Obras assim podem até nascer à margem do hype, mas encontram seu espaço justamente porque oferecem frescor em meio ao previsível.

Isso não significa fechar os olhos para o presente. Estar atento ao que circula, ao que desperta interesse coletivo, é saudável. Afinal, nenhum escritor cria no vazio; todos somos atravessados pelo nosso tempo. O problema não está em dialogar com tendências, mas em deixar-se dominar por elas a ponto de perder a essência. O equilíbrio talvez resida em reconhecer o que se passa ao redor sem deixar que isso substitua o que pulsa dentro. É possível adaptar-se, experimentar novos caminhos, sem trair aquilo que se acredita.

Escrever apenas pelo hype pode garantir atenção temporária. Mas é a escrita enraizada em convicções, em experiências, em verdades pessoais, que constrói permanência. No fim, o autor precisa decidir qual tipo de marca deseja deixar: a efêmera, moldada pelo gosto passageiro, ou a duradoura, moldada pela própria voz.

E talvez seja justamente aí que está o sentido mais profundo de escrever. Não é apenas responder ao que o mundo espera agora, mas oferecer ao mundo aquilo que ele ainda não sabe que precisa.

 

Texto escrito por: Mel Courel 

 

Acesse nosso site e adquira o livro da Mel: clubelitera.com

 

Siga-nos no Instagram: @literaworld_